Nota dos Policiais Antifacistas (RN) sobre o assassinato de mais um PM no estado

Na atual lógica da segurança pública, os praças cuidam de todos e ninguém cuida dos PRAÇAS
“Uma guerra desigual, crônica de uma tragédia anunciada. É o presente repetindo o passado. O 13º PM assassinado em 4 meses no RN traz novamente, infelizmente, o mesmo roteiro repetitivo, que tem como vítima a própria sociedade.
 
Os praças da PM tem sido um alvo preferencial, fácil e emblemático na grande farsa da guerra às drogas. Ocorre que uma maioria esmagadora destes moram em áreas periféricas, onde ultimamente o Estado tem feito questão de se ausentar ainda mais, deixando assim um terreno fértil e promissor para as facções criminosas constituírem seus exércitos com jovens sem perspectiva de presente e futuro.
 
Vítimas da maior desvalorização dentre os agentes da segurança pública potiguar, os Praças da PM tem vivido dias de verdadeira angústia com o crescente aumento da violência voltadas a eles.
 
A percepção evidente é que estão vivendo uma guerra solitária e quase que particular. No entanto, não são chamados pra expor o que pensam a respeito de toda essa previsível tragédia, para que de modo propositivo possam intervir.
 
Por muitas vezes o policial sai de uma operação em uma “área de risco” e vai pra casa descansar em outra, ou na mesma, “área de risco”, esse fato parece não chamar a atenção dos tomadores de decisões do nosso estado, visto que tem sua segurança garantida pelo Estado através dos próprios PRAÇAS, o que se estende a todos os demais poderosos do executivo, do legislativo, do judiciário, do MP e do TCE, dentre outros. Menos para os próprios PRAÇAS!
 
Parece fácil assimilar que em uma operação no bairro (A) dominada pela facção (X), dependendo da situação daquela ocorrência, dos danos produzidos por ela, quando o policial voltar pra casa no bairro (B) também dominado pela facção (X) estará correndo iminente risco de morte.
 
Por tudo isso, quanto de sangue de Praça ainda precisa jorrar para que as coalizões conservadoras possam entender que o sistema precisa de mudanças estruturais para que tenhamos um modelo de segurança pública que diminua a sobrecarga de riscos ao mais vulneráveis e que permita que o Praça possa opinar sobre o seu duro cotidiano. Mais ainda que a opinião dele seja considerada.
 
Quanto sangue de Praça ainda servirá para enxugar gelo e apagar os fogos da reativa e precária segurança pública potiguar? Quem assume tamanho descaso com a vida perdida destes 13 operadores de segurança pública? Quem assume o fracasso do sistema de segurança pública do RN? Quem?”

Natália Bonavides

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