A DOR DA CASA PRÓPRIA

A Comuna Urbana Luiz Beltrame é um lugar repleto de histórias. Conheça um pouco da trajetória de Dona Maria José, 55 anos, moradora da Comuna e uma das participante do Comitê Popular de Mulheres, promovido pelo nosso mandato.

Dona Maria é igual a tantas outras mulheres guerreiras por esse mundão. Ela era casada, mãe de cinco filhos, morava no Planalto, com o marido alcoólatra que batia nas crianças e a família tinha que suportar as bebedeiras constantes. Ao decidir pelo divórcio, o pai das crianças disse que ela ‘poderia sair, mas que de lá não levaria nada’. Assim o fez. Arrumou a bolsa das crianças e foi viver de favor. Trabalhava de segunda à sexta, como empregada doméstica em casa de família. Nos feriados e finais de semana, Maria José ergueu – com ajuda dos filhos, o mais velho com 12 anos – a casa que vive atualmente no Vale Dourado, bairro da zona Norte de Natal.

“Faz 13 anos que comecei a casa e até hoje está faltando o reboco. Levei muito choque aqui, não sabia fazer nada, mas fui fazendo e foi dando certo. Eu tracei a casa todinha, fiz o alicerce e fui subindo parede por parede. Eu preparava o cimento, subia na escada e meus filhos iam passando o baldinho de um por um até chegar a mim. O maior sofrimento foi quando eu subia as paredes e os vizinhos derrubavam porque não me queriam ali. Eu fiz vigília uma noite e descobri quem estava fazendo aquela maldade. Eu contei com a ajuda de muita gente, mas a casa mesmo só está de pé por causa de mim e dos meus filhos. Até hoje eu carrego uma dor nas minhas costas de ter construído essa casa. Mas eu nunca achei que não iria conseguir.”

Foto: João Oliveira

Natália Bonavides

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